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Exaustão: O Mal do Século e Como Enfrentá-lo

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10/08/2024
Burnout, Exaustão, Cansaço, Improdutividade
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“A sociedade de hoje não é primordialmente uma sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho” (HAN, Byung-Chul, 2015). 

A exaustão, frequentemente referida como o mal do século, é uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Ela vai além do simples cansaço físico; envolve esgotamento emocional, mental e até espiritual. Vivemos em uma era de alta demanda, onde a pressão por produtividade e a necessidade de estarmos constantemente conectados criam um ambiente propício para o desenvolvimento da exaustão. Neste texto, vamos explorar as causas, os sintomas e as estratégias para lidar com essa condição que tem se tornado cada vez mais comum. 

De acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme citado por Conto et al. (2013), o estresse afeta aproximadamente 90% da população mundial. Esse problema pode ser causado por uma variedade de fatores, que podem ser de natureza física ou emocional e são conhecidos como estressores. O estresse é uma reação fisiológica que pode se manifestar em níveis leves ou moderados, assim como em casos mais graves (CARLOTTO, 2022).

No livro a Sociedade do cansaço, Byung-Chul Han afirma:

“O cansaço da sociedade do desempenho é um cansaço solitário, que atua individualizando e isolando. O cansaço do esgotamento não é um cansaço da potência positiva. Ele nos incapacita de fazer qualquer coisa.”

Sennett, sociólogo e historiador, afirma que o sentimento de ter alcançado uma meta não é “evitado” deliberadamente. Ao contrário, o sentimento de ter alcançado uma meta definitiva jamais se instaura. Não é que o sujeito não queira chegar a alcançar a meta. Pelo contrário, não é capaz de chegar à conclusão. A imposição pelo constante desempenho força-o a produzir cada vez mais. Assim, jamais alcança um ponto de repouso da gratificação. Vive constantemente num sentimento de carência e de culpa. E visto que, em última instância, está concorrendo consigo mesmo, procura superar a si mesmo até sucumbir. Sofre um colapso psíquico, chamado de burnout (esgotamento).

O burnout não é definido como um transtorno no DSM, sendo classificado pela CID-10 e CID-11 (10ª e 11ª Edição da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde) não como uma doença, mas como "fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com serviços de saúde".

Sob essa perspectiva, é possível notar a alta ocorrência da chamada Síndrome de Burnout entre profissionais. Essa síndrome foi descrita pela primeira vez pelo psicólogo clínico Herbert J. Freudenberger em 1974, que criou o termo "staff burnout." Ela é caracterizada por afetar especialmente profissionais que trabalham diretamente com pessoas, manifestando-se através da tríade: exaustão emocional, descrença/despersonalização e diminuição da realização profissional, devido a fontes crônicas de estresse. Como consequência do aumento do estresse no trabalho, surge a Síndrome de Burnout, que indica que o indivíduo atingiu um nível de esgotamento, causando transtornos psicológicos. O termo inglês "Burnout" vem da combinação das palavras "burn" (queimar) e "out" (fora), e está relacionado à sensação de exaustão emocional e desajuste psicológico (MORENO et al., 2011).

A exaustão emocional está ligada à sensação de cansaço físico e mental, o que dificulta a execução de tarefas. A despersonalização envolve comportamentos e atitudes negativas do profissional, como desprezo, distanciamento e apatia, em relação às pessoas que recebem seus serviços. O sentimento de diminuição da realização pessoal reflete uma insatisfação do profissional com seu trabalho, indicando uma baixa eficiência profissional (CROCE et al., 2022).

Causas da Exaustão 

A exaustão pode ter múltiplas origens, variando de pessoa para pessoa. Algumas das principais causas incluem:

  1. Sobrecarga de Trabalho: O excesso de horas trabalhadas, a falta de pausas e a alta demanda por resultados podem levar ao esgotamento físico e mental.
  2. Conflitos Pessoais: Problemas nos relacionamentos, seja com familiares, amigos ou parceiros, podem drenar nossas energias emocionais.
  3. Falta de sono: O sono inadequado ou de má qualidade é uma das principais causas de exaustão. O corpo e a mente precisam de tempo para se recuperar e se restaurar. 
  4. Excesso de Estímulos: Vivemos em um mundo cheio de estímulos constantes, desde notificações de redes sociais até a pressão para estar sempre atualizado com as últimas tendências. 
  5. Autoexigência: A pressão interna para ser perfeito e alcançar metas muitas vezes irreais pode levar ao esgotamento.

Sintomas da Exaustão

Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) definem as três dimensões da síndrome da seguinte forma: Exaustão emocional, que se manifesta como uma falta de energia, entusiasmo e uma sensação de esgotamento dos recursos; despersonalização, que se caracteriza por tratar clientes, colegas e a organização como meros objetos; e redução da realização pessoal no trabalho, uma tendência dos trabalhadores a se auto avaliar negativamente. As pessoas se sentem insatisfeitas consigo mesmas e com seu desenvolvimento profissional. 

Os sintomas da exaustão podem variar, mas alguns dos mais comuns incluem:

  • Fadiga Persistente: Sensação constante de cansaço que não melhora com descanso. 
  • Falta de Motivação: Dificuldade em encontrar energia ou interesse em atividades que antes eram prazerosas. 
  • Problemas de Concentração: Dificuldade em manter o foco e a atenção. 
  • Irritabilidade: Mudanças de humor, com tendência a se irritar facilmente. 
  • Distúrbios do Sono: Dificuldade para adormecer ou manter o sono, resultando em noites mal dormidas.
  • Sintomas Físicos: Dores de cabeça, problemas digestivos e tensão muscular.

Estratégias para Combater a Exaustão

Lidar com a exaustão requer uma abordagem multifacetada, que envolve mudanças no estilo de vida e o desenvolvimento de novas habilidades de enfrentamento. Aqui estão algumas estratégias eficazes:

  1. Estabeleça limites: Aprenda a dizer não e a definir limites claros tanto no trabalho quanto na vida pessoal. Isso ajudará a evitar a sobrecarga. 
  2. Priorize o sono: Crie uma rotina de sono regular e priorize a qualidade do seu descanso. Evite o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir e crie um ambiente propício para o sono. 
  3. Pratique o Autocuidado: Reserve tempo para atividades que lhe tragam prazer e relaxamento. Isso pode incluir exercícios físicos, hobbies, meditação ou simplesmente um momento de tranquilidade. 
  4. Gerencie o Estresse: Aprenda técnicas de gerenciamento do estresse, como a prática de mindfulness, respiração profunda e yoga. 
  5. Busque Apoio: Não hesite em procurar ajuda profissional se sentir que a exaustão está afetando sua vida de maneira significativa. Psicólogos e terapeutas podem oferecer suporte e estratégias específicas para sua situação. 
  6. Mantenha Conexões Sociais: Cultive relacionamentos saudáveis e passe tempo com pessoas que lhe façam bem. O apoio social é fundamental para a saúde mental.

Conclusão 

A exaustão é um desafio real e crescente na sociedade moderna. Reconhecer seus sintomas e causas é o primeiro passo para enfrentá-la. Ao adotar práticas de autocuidado e buscar apoio psicológico é primordial. Dessa forma, será possível recuperar sua energia e bem-estar. Lembre-se de que cuidar de si mesmo não é um luxo, mas uma necessidade. Coloque sua saúde mental e física como prioridade e tome medidas ativas para combater a exaustão.

Referências

CARLOTTO, Mary Sandra. A síndrome de burnout e o trabalho docente. Psicologia em estudo, v. 7, p. 21-29, 2002. 

CONTO, Fernanda de et al. Estresse laboral e suas implicações no processo de cuidar e do autocuidado da equipe de enfermagem. 2013. 

CROCE, Kamila Simões et al. Síndrome de Burnout em Profissionais de Saúde: Prevalência e Fatores de Risco Associados. Revista Brasileira de Educação, Saúde e Bem-estar, v. 1, n. 2, 2022. 

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. 80 p. 

MASLACH, Christina; SCHAUFELI, Wilmar B.; LEITER, Michael P. Job burnout. Annual review of psychology, v. 52, n. 1, p. 397-422, 2001. 

MORENO, Fernanda Novaes et al. Estratégias e intervenções no enfrentamento da síndrome de burnout. Rev enferm UERJ, v. 19, n. 1, p. 140-5, 2011.

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