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TDAH Desvendado: Diagnóstico, Neurobiologia e Estratégias Eficazes para Lidar com o Transtorno

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10/08/2024
Tdah, Terapia cognitivo-comportamental, Déficit de atenção e hiperatividade, Neurodesenvolvimento
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O QUE É O TDAH?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento que acomete cerca de 8,4% das crianças e 2,5% dos adultos, também é classificado como um transtorno da disfunção executiva, por possuir uma alteração no funcionamento executivo. O TDAH é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais comuns, e costuma ser diagnosticado na infância. As crianças que possuem o transtorno podem ter problemas associados ao direcionamento da atenção, controle da impulsividade (agir sem pensar nas consequências de seus atos) e podem ser extremamente ativas (FARAONE et al., 2021).

Segundo o DSM-V, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que apresenta níveis prejudiciais de desatenção, hiperatividade-impulsividade e/ou desorganização. Tanto a desatenção, quanto a desorganização dizem respeito à dificuldade de permanecer em uma mesma tarefa, não conseguir permanecer em foco, não ouvir alguém falando e perder objetos constantemente. A hiperatividade diz respeito a uma atividade motora excessiva quando não é o momento apropriado ou remexer, além de batucar ou conversar em excesso. Enquanto a impulsividade está ligada a ações súbitas que acontecem no momento, sem nenhum tipo de premeditação, e com um alto nível de dano para à pessoa. Além disso, a impulsividade pode estar ligada ao interesse desses indivíduos por recompensas imediatas, ou até mesmo a incapacidade de adiar a gratificação.

Os comportamentos impulsivos podem se manifestar de algumas formas, como por exemplo: intromissão social, tomada de decisões sem refletir nas consequências a longo prazo. Já a hiperatividade ocasiona inquietação, atividade excessiva, incapacidade de permanecer sentado por um certo tempo, interromper falas dos outros e dificuldade de esperar. Todos esses sintomas devem possuir níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).

DESENVOLVIMENTO DO TDAH

O TDAH tem o seu início na infância, por isso é necessário que vários sintomas sejam vigentes antes dos 12 anos. Mesmo com essa necessidade clínica, uma idade 8 de início mais precoce não é estipulada por existirem dificuldades em determinar um início na infância (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). De acordo com os critérios do DSM-V, para que o diagnóstico seja designado é preciso que o indivíduo apresente pelo menos seis ou mais dos sintomas de desatenção, seis ou mais sintomas de hiperatividade e impulsividade em um nível incongruente com o grau do desenvolvimento, e que cause impacto negativo no meio social e acadêmico/profissional, por pelo menos seis meses. Ademais, o transtorno deverá estar presente em pelo menos dois ambientes distintos, como a escola e o ambiente doméstico.

NEUROBIOLOGIA DO TDAH

Segundo Ohlweiler, (2016) o TDAH pode ser consequência de uma disfunção neurológica no córtex pré-frontal, devido a uma deficiência do neurotransmissor dopamina. Os neurotransmissores catecolaminérgicos são formados pela dopamina, noradrenalina e adrenalina. Por isso, quando os indivíduos que possuem o transtorno tentam se concentrar, a atividade do córtex pré-frontal diminui ao invés de aumentar. Dessa maneira, sintomas como fraca supervisão interna, índice de atenção reduzido, distração, desorganização e hiperatividade passam a surgir.

Segundo Guardiola, (2016) os neurotransmissores dopamina (DA) e noradrenalina (NA) influenciam na atenção e concentração, como também nas funções cognitivas correlatas (motivação, interesse e aprendizado nas tarefas). A via de projeção dopaminérgica mesocortical participa na intermediação das funções cognitivas como aprendizado de séries, fluência verbal, vigilância no decorrer de funções executivas, manutenção e concentração da atenção e priorização de comportamentos sociais. Já a via noradrenérgica pré-frontal possui grande influência na persistência do foco e da atenção, tal como na conciliação da disposição, fadiga, motivação e interesse. Tais neurotransmissores e suas vias estão envolvidos no TDAH. Sintomas como esquecimento, distração, impulsividade e desorganização são resultados da escassez da dopamina nos circuitos do córtex pré-frontal e amígdala, que é levada através da neurotransmissão das catecolaminas.

Ainda que alguns estudos de neuroimagem tenham identificado alterações estruturais e funcionais no cérebro de pacientes com TDAH, sua neurobiologia ainda não é completamente entendida. As pesquisas ainda não são definitivas e resultados controversos. No entanto, alguns estudos fidedignos mostram diminuição no volume total intracraniano em indivíduos que possuem o diagnóstico e em volumes subcorticais, com destaque para os núcleos da base (estriado – caudado e putâmen, globo pálido e substância negra) (CUPERTINO, 2019).

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

Um estudo recente (SCHMITZ, 2019) aponta que o tratamento farmacológico mais prescrito no TDAH é o metilfenidato. Tal fármaco vem sendo utilizado com certa eficácia por crianças em idade pré-escolar, adolescentes e jovens adultos, mas mais estudos ainda são necessários para elucidar possíveis consequências neuropsicológicas, especialmente no cérebro em desenvolvimento.

Os medicamentos com função psicoestimulantes têm a capacidade de ampliar a motivação e o estado de alerta, o que faz com que haja diminuição da necessidade de repouso, além de possuir capacidades antidepressivas, gerando uma melhora no humor e no desempenho cognitivo (NETO et al. 2018).

TRATAMENTO PSICOLÓGICO

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem eficaz no tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). As técnicas utilizadas ajudam a desenvolver habilidades de organização, manejo de tempo, regulação emocional e controle dos impulsos (BECK, 2013).

A TCC desempenha um papel crucial ao abordar o TDAH, proporcionando uma compreensão através da psicoeducação e relacionando aspectos cognitivos, neurológicos e comportamentais. Essa abordagem visa modificar comportamentos inquietos ou desatentos, ajudando o paciente a lidar com suas dificuldades e a se adaptar melhor ao ambiente social e educacional. O trabalho em conjunto com uma equipe multidisciplinar, incluindo psicopedagogos, psiquiatras, neuropsicólogos e nutricionistas, possibilita um tratamento mais humanizado e abrangente, tanto em casa quanto na escola ou no ambiente de trabalho.

A TCC pode ser aplicada em tratamentos de curto a longo prazo, dependendo das necessidades individuais, facilitando a aceitação do processo terapêutico. Técnicas como motivação, educação positiva, metas, ensaios, exposição gradual e questionamentos socráticos são empregadas para tratar o comportamento. A participação ativa dos pais ou responsáveis é essencial para o sucesso do tratamento, pois eles devem acompanhar e apoiar todo o processo de aprendizagem, além de ajudar na implementação das mudanças necessárias no lar, na escola e na vida social. Isso ajuda a criança ou adulto com TDAH a entender melhor sua condição e a aceitar o tratamento de forma mais eficaz (BECK, 2013).

Aqui estão algumas das principais técnicas da TCC aplicadas ao manejo do TDAH:

  1. Psicoeducação
    • Objetivo: Educar o paciente sobre o TDAH, seus sintomas e impacto na vida cotidiana.
    • Como funciona: Fornecer informações detalhadas sobre o transtorno, ajudar a desmistificar preconceitos e estabelecer uma base de compreensão.
  2. Treinamento de Habilidades Sociais
    • Objetivo: Melhorar a capacidade de interação social e comunicação.
    • Como funciona: Ensinando estratégias para lidar com conflitos, entender sinais sociais e melhorar a assertividade.
  3. Organização e Planejamento
    • Objetivo: Ajudar na organização de tarefas e na gestão do tempo.
    • Como funciona: Utilizando listas de tarefas, calendários, lembretes e técnicas de priorização para ajudar o paciente a se manter organizado.
  4. Reestruturação Cognitiva
    • Objetivo: Identificar e modificar pensamentos negativos e distorcidos.
    • Como funciona: Encorajar a auto-reflexão e a mudança de padrões de pensamento que contribuem para sentimentos de frustração e desânimo.
  5. Treinamento de Controle de Impulsos
    • Objetivo: Ajudar a controlar comportamentos impulsivos.
    • Como funciona: Técnicas como a "pausa" antes de responder ou agir, o que permite uma reflexão sobre as consequências
  6. Técnicas de Relaxamento e Mindfulness
    • Objetivo: Reduzir o estresse e aumentar o foco.
    • Como funciona: Ensinar técnicas de respiração, meditação e atenção plena para aumentar a autoconsciência e a regulação emocional.
  7. Análise e Modificação de Comportamento
    • Objetivo: Identificar e alterar comportamentos problemáticos.
    • Como funciona: Utilização de reforço positivo para incentivar comportamentos desejados e estratégias para evitar comportamentos indesejados.
  8. Treinamento de Solução de Problemas
    • Objetivo: Desenvolver habilidades de resolução de problemas de forma estruturada.
    • Como funciona: Ensinar a definir problemas, gerar opções de solução, avaliar alternativas e escolher a melhor solução.

Essas técnicas são frequentemente personalizadas de acordo com as necessidades individuais de cada paciente e podem ser combinadas com outras abordagens terapêuticas e, em alguns casos, com o uso de medicação.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: 5. Ed. Porto Alegre: ARTMED,2014. 

BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental. Artmed Editora, 2013. 

CUPERTINO, Renata Basso. Genética e neuroimagem no TDAH e fenótipos relacionados. 2019. 

NETO, F. D. C. C. D. V. et al. O uso não prescrito de metilfenidato entre acadêmicos de medicina: uma revisão de literatura. Revista Interdisciplinar em Saúde, Cajazeiras, v.5, n.4, p.759-773, set., 2018.

FARAONE, Stephen V. et al. The world federation of ADHD international consensus statement: 208 evidence-based conclusions about the disorder. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 128, p. 789-818, 2021. 

GUARDIOLA, Ana. Transtorno de atenção: aspectos neurobiológicos. In ROTTA, Newra Tellechea;. 

OHLWEILER, L; RIESGO, R. S.(Org). Transtorno da Aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed. 2016, p. 29-42. 

SCHMITZ, Felipe; CHAO, Moses V.; WYSE, Angela TS. Methylphenidate alters AktmTOR signaling in rat pheochromocytoma cells. International Journal of Developmental Neuroscience, v. 73, p. 10-18, 2019.

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